Grupo dos Garotinho busca um candidato para chamar de seu em SJB

Confiantes na reeleição de Wladimir Garotinho (PP) no próximo ano em Campos, o grupo político quer expandir sua liderança na região. A começar pelo município vizinho de São João da Barra. Pesquisas internas dos garotistas apontam interesse da população sanjoanense em acompanhar a gestão Wladimir. Some-se a isso o fato de a ex-prefeita Carla Machado (PT), atual deputada estadual, ter transferido o título para Campos e ter afirmado que participará do processo eleitoral (aqui), do lado oposto ao prefeito. Foi a conta ideal para que os Garotinho começassem a buscar um candidato para chamar de seu na terra de Narcisa Amália — além de personagens já colocados no tabuleiro sanjoanense, já tem gente especulando nomes como o do próprio Anthony Garotinho e até o do deputado federal Caio Vianna (PSD).

Carla Machado transferiu o título para campos em outubro

Para grupo político do ex-governador, seria uma tentativa de repetir o pleito de 1992. À época não havia reeleição e Anthony Garotinho encerrava seu primeiro mandato de prefeito do maior município do Rio de Janeiro com alta aprovação popular. Conseguiu eleger não só o sucessor, Sérgio Mendes (apesar das rusgas até mesmo na campanha), como também fez Ranulfo Vidigal prefeito naquela que seria a última eleição municipal antes da emancipação do antigo sertão sanjoanense, hoje São Francisco de Itabapoana. A lembrar, cassado em 1996, Ranulfo não concluiu o mandato.

Há mais de três décadas, Garotinho teve cacife eleitoral para “criar” Ranulfo e vencer um político com histórico no município, Alberto Dauaire (1926-2016), um ex-prefeito. Agora, há outras dificuldades que o grupo precisará enfrentar. O principal desafio, talvez, seja o nome para as urnas no próximo ano — sobretudo em um cenário com a prefeita Carla Caputi (sem partido) candidata à reeleição e com alta popularidade, segundo a única pesquisa divulgada no município até então (aqui). E também o fato de o desempenho de Machado em SJB ter a cacifado como nome regional, com boa análise de campistas segundo pesquisas sobre a gestão dela no município vizinho.

Antes de Carla Machado se alinhar com o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (PL), para as eleições de Campos no ano que vem — e o fim da pacificação campista —, existia uma tendência de atuação política conjunta de Rodrigo, Wladimir e o deputado Bruno Dauaire (União) para tentar quebrar a hegemonia da ex-prefeita sanjoanense. Todos estariam empenhados no apoio a uma chapa, ainda a definir. O grupo liderado por Carla em SJB venceu as últimas cinco eleições municipais — sendo que, em quatro, ela encabeçou a chapa.

Foto da “pacificação em SJB”, publicada no início de agosto

Ex-presidente da Câmara, Elísio Rodrigues (PL) seria um nome a se apostar. Vereador mais votado nas duas últimas eleições municipais, não esconde o desejo de disputar o Executivo (aqui). Mas pode acabar sem padrinho político para uma candidatura contra uma máquina forte. Bacellar já está com Carla. Wladimir o acolheu (aqui), mas a verdade é que o grupo ainda quer buscar um nome mais competitivo, um nome de oposição com cara de oposição, como dizem.

Prefeito de Campos recebeu os vereadores de oposição em SJB no final de outubro, para discutir a política regional

Transferência de títulos de Campos para SJB?

Recentemente, houve um encontro (aqui) do prefeito com seu adversário no segundo turno em 2020, Caio Vianna. No exercício do mandato, ele é terceiro suplente do PSD fluminense na Câmara dos Deputados. Nome cotado novamente para a disputa Campos (aqui), passou a ser especulado também em SJB. Numa jogada em conjunto com Wladimir. No Manchete Podcast que vai ao ar nesta segunda (20), o prefeito de Campos nega esse movimento, mas diz que ninguém pode reclamar se vier a acontecer, já que Carla transferiu o título de SJB para Campos. Na análise dele, nada impede que outro político faço o caminho contrário.

Encontro entre Wladimir e Caio no início da semana movimentou o cenário político regional

Nas redes sociais, Anthony Garotinho fez uma publicação em tom misterioso, como gosta de fazer. Nas casuarinas de Chapéu de Sol, junto a nomes do seu grupo político, informou que a conversa era sobre o cenário político de SJB. “Pode ser que sim, pode ser que não… Talvez… Quem sabe?”, colocou na legenda. E foi questionado por um seguidor se seria candidato na cidade. Não respondeu diretamente, mas apontou que pela Lei Eleitoral tem até 6 de abril para mudar o domicílio eleitoral — e, obviamente, só poderia ser candidato se todas as pendências com a Justiça estiverem sanadas.

Garotinho fez uma publicação nas redes sociais nessa sexta (17)

Em relação ao sanjoanense Danilo Barreto, mais votado a vereador na “pedra” na última eleição, pode pesar a ideia de “queimar cartucho” ao se lançar a prefeito no atual pleito. Com a mudança de nove para 13 cadeiras na Câmara, e uma das poucas vozes de oposição a se expor constantemente no município, talvez a análise seja a de que seria mais prudente uma disputa ao Legislativo, para ganhar musculatura política.

Publicação de Danilo Barreto nas redes sociais, após cobranças sobre ônibus para alunos do IFF

Bruno Dauaire talvez fosse um nome para os Garotinho chamar de seu candidato em SJB. Aliado de primeira hora de Wladimir, que o elegeu deputado estadual em 2014, é neto e filho de ex-prefeitos, tem três mandatos na Alerj e atualmente está como secretário estadual de Habitação. Sempre tem o nome ventilado nas eleições municipais sanjoanenses. Embora esperado, não foi candidato em 2016, nem em 2020. E, afirmam nomes próximos a ele, não deve ser em 2024.

Aliado de Wladimir de longa data, Bruno é um nome sempre cotado em SJB, mas que nunca disputou a eleição municipal

Enquanto o grupo político enraizado em Campos busca um nome para ser candidato, o que acaba até esvaziando os sanjoanenses já colocados, a atual prefeita só não tem, ainda, um vice para chamar de seu. Já o discurso contra qualquer candidato “de fora”, está pronto há algumas eleições: vai ser o de “fora forasteiro”, muito usado pelo grupo de Carla.

A SJB de 2024 é bem diferente de 1992.

Disputa à reeleição no cargo e arrecadação em alta

Apesar de sempre terem sido municípios distintos, Campos e SJB têm relações muito próximas ao longo de toda a história. Na eleição de 1992, pesou o apoio de Garotinho a Ranulfo, para trazer o “novo” para SJB. À época, Genecy Mendonça, o Dodozinho, não podia buscar a reeleição. O MDB, grande vencedor das eleições municipais, lançou o também ex-prefeito Alberto Dauaire. Recordista na sua época de mandatos na Alerj, ele perdeu para o novo naquele contexto, em que Campos avaliava bem a novidade que foi Garotinho, quebrando a hegemonia de tradicionais grupo políticos.

Os contextos hoje são outros. Carla Caputi vai disputar a reeleição sentada na cadeira de prefeita. Nome leve, que foi candidata pela primeira em 2020 como vice de Carla Machado, assumiu o governo ano passado, na renúncia da ex-prefeita, hoje deputado estadual. Impôs sua marca particular e parece ter agrado parte da população e políticos locais — tanto que não demorou muito para ter maioria na Câmara. Vai para o teste de fogo nas urnas, com a única pesquisa divulgada no município a colocando como franca favorita (aqui).

Pesquisa realizada em SJB no mês de outubro e divulgada no início de novembro

O peso da máquina também e considerável. A São João da Barra de 2024, com arrecadação batendo na porta de R$ 1 bilhão, é bem diferente da de 1992. Programa de transferência de renda no valor de R$ 600 e com cerca de 5 mil beneficiários, bolsas universitária, ônibus gratuitos, entre outras ações. Tudo isso pesa a favor da máquina. Aliás, o grupo liderado por Carla Machado desde que assumiu a máquina, em 2004, nunca perdeu a eleição. Ela venceu duas vezes (2004 e 2008), fez sucessor (Neco, em 2012), rompeu com ele e o derrotou (2016) e foi reeleita no último pleito (2020).

Há espaço, e é salutar que se tenha, para o discurso que os Garotinho querem levar para SJB. Vão bater na tecla da falta de saneamento básico, que realmente é um fator preocupante, e não é de hoje, em um município com a arrecadação que SJB tem. Também vão falar da falta de investimentos e o alto número de dependentes de programas sociais, o que eleva a taxa de extrema pobreza no município. Ainda sem nome definido para a disputa, haverá tempo para martelar esse discurso junto à população e fazer com que isso se transforme em votos?

Eleição só se vence nas urnas. E nem sempre há explicações plausíveis para reviravoltas e seus resultados. Contudo, é difícil imaginar que políticos com potencial eleitoral em Campos possam querer se aventurar na vizinha SJB, em um cenário aparentemente desfavorável. Como tudo pode acontecer, resta esperar e conferir.