- 30/09/2024
Se vida de prefeito não deve ser fácil, a de Wladimir Garotinho (sem partido) tem sido menos ainda quando o assunto é a relação com a Câmara. Em um movimento que surpreendeu muita gente, a oposição voltou a ser “G13”, com o retorno de Abdu Neme (Avante). E a maioria já chegou impondo ao prefeito apenas 10% de remanejamento no próximo ano, com a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), na sessão dessa terça-feira (1º). E nem é esse o principal desafio imposto ao prefeito. Os próximos passos serão essenciais para saber se há condições ou não de manter a pacificação — que parece ter desandado, com o passo dado pela oposição.
A expectativa dos governistas era de manter os 20% de remanejamento, como no Orçamento deste ano. O percentual foi selado na pacificação com o aval do governador Cláudio Castro (PL) e de Rodrigo Bacellar (ainda no PL) — depois de muita confusão no ano passado, com virada da oposição na eleição para presidente da Câmara, ameaça da então Mesa de cassar vereadores opositores, entre outras polêmicas.
Alguma coisa, porém, parece que não vai bem nesse acordo. Mesmo com Wladimir tendo dito recentemente que o combinado está sendo cumprido. Disse ainda acreditar que, pelo combinado, Bacellar não lança candidato a prefeito de Campos. Até afirmou esperar que o apoie e ajudará a montar nominatas com vereadores do grupo de Rodrigo. As declarações não chegaram nada bem no grupo da oposição e parece logo ter vindo a votação da LDO como resposta.
O prefeito tem a opção ser algodão entre cristais: aceitaria a derrota imposta pela oposição e teria um trabalho dificílimo de acalmar os ânimos dos seus aliados. A começar pela família, já que ninguém acredita que tenha sido coincidência uma postagem nas redes sociais de Anthony Garotinho (União) sobre porcos e políticos, logo após a “surpresa” da oposição na LDO. E no dia seguinte ainda fez ilações com empenho do Governo do Estado a uma empresa que seria, segundo ele, ligada ao filho de Abdu. Se aceitar essa papel de pacificador, Wladimir pode evitar ainda mais conflitos às vésperas do pleito municipal, no qual as pesquisas até o momento apontam o seu favoritismo.
Contudo, a sessão dessa terça acabou com cheiro de judicialização — com a permissão para Marquinho Bacellar (SD), presidente da Casa, votar na LDO e suas emendas, garantido a maioria absoluta do plenário. E esse seria outro caminho para Wladimir, o de tentar suspender as decisões do plenário na Justiça, ganhando tempo para costurar uma composição por cima, recorrendo, talvez, de novo a Rodrigo e Castro. Entretanto, é bom ficar atento que a judicialização não seria bem aceita pelo grupo ligado a Bacellar — e poderia ser o fator para azedar de vez o acordo. Também não se sabe qual seria a posição do presidente da Alerj agora, já que circula nos bastidores da planície que a votação da LDO só ocorreu após um encontro de vereadores com Rodrigo. Até o líder do governo na Câmara de Campos, Álvaro Oliveira (PSD), citou isso de forma velada, ao dizer que os colegas opositores foram ao Rio um dia antes da sessão.
Aceitar a derrota e ser algodão entre cristais no seu grupo ou partir para o enfrentamento com uma Câmara de oposição forte em ano eleitoral? O grande desafio de Wladimir na esfera política local no momento parece ser essa escolha, sem muitas opções. E como nada é tão ruim que não possa piorar, no mesmo dia dos 10% na LDO, tem parcela de royalties com queda de 21%. Haja aprovação popular para manter favoritismo com minoria na Câmara, engessado no remanejamento e com queda na principal receita do município. Isso sem falar que a tal pacificação não agrada a todos os atores políticos dos grupos. Para muita gente, o melhor é o enfrentamento, sobretudo pensando no desempenho eleitoral do próximo ano, a despeito de melhorias para a cidade oriundas do acordo.